segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Palavras difíceis desta edição


Gustavo Cordeiro

Na manhã seguinte ao desabamento no túnel Rebouças, os jornais O Globo, JB e Estadão noticiaram sete toneladas de terra vindas abaixo, a Folha publicou três. A diferença, de quatro toneladas, faz crer que alguém está certo e o resto é um erro.

“O jornal é um documento firmado, disponível, por isso é importante, mais do que TV ou rádio, já que palavras vão ao vento”, segundo o historiador Milton Teixeira, e isso dá ao jornalista um statu quo de intelectual. Antes, por não existir o curso de jornalismo, jornalistas eram economistas, advogados etc. Firmava-se no metier pelo talento em escrever. Quando foi criado o curso, o mercado foi abastecido com jornalistas “fabricados”, ainda de acordo com o historiador.

Para alguns, a chegada da Internet e o aumento da produção fez com que a qualidade do que é escrito diminuísse. “O que mudou foi o meio”, afirma Rodrigo Lariu, 34, que já colaborou para os jornais O Globo e Folha , “antes o cara tinha que ter reconhecimento, o entrevistado tinha que saber com quem ia falar, para não ser mal compreendido. Hoje o cara lê três sites, manda um e-mail e acha que tá tudo certo”. Teixeira tem a mesma opinião: “Meu maior medo em uma entrevista é a burrice do entrevistador”.

A pesquisadora Micheline Christophe, 53, especialista em jornalismo, vê o oposto “O jornal usa a linguagem de seu tempo e hoje rebusco é bobagem, não se pode ater a isso” e completa afirmando que as ferramentas de revisão e pesquisa fazem com que o texto fique mais fino e cuidadoso. Segundo ela, não se deve atribuir a culpa somente ao jornalista. A estudante de jornalismo Raquel Catauli, 25, concorda “acho que o problema é de cada um, que se dedica ou não. Quem é bom se destaca”. Isso justificaria o jornal Meia-Hora fazer uma coluna chamada “palavras difíceis desta edição” para elucidar seus leitores. Nessa coluna você pode aprender o significado de “metier”, “rebusco” e “elucidar”.

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